Michel Foucault, dixit:

Em primeiro lugar, existem as utopias. As utopias são sítios sem lugar real. São sítios que têm uma relação analógica directa ou invertida com o espaço real da sociedade.
Apresentam a sociedade numa forma aperfeiçoada, ou totalmente virada ao contrário.
Seja como for, as utopias são espaços fundamentalmente irreais.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Noites Utópicas 3 | Tribos Urbanas - Subculturas - Activismos - ....

4 de Março (quinta) 
Teatro-Cine de Torres Vedras | 21h30 | Entrada Livre


Nenhuma subcultura tratou com maior afinco a separação face à paisagem supostamente inquestionável das formas normalizadas do que a dos Punks, ninguém como eles procurou atrair sobre si a desaprovação mais veemente.
Dick Hebdige

Creative action can express ityself in myriad forms and emerge from any source, but its impact depends on the imagination of public, private and community leadership. Creative people within the city also need to recognize each others' existence to work common agendas, develop synergies and provide mutual support.
Charles Landry 

Ideologia e hegemonia são dois conceitos próximos da palavra cultura, mas na década de 60 este  poderoso triângulo foi abalado por diversos movimentos que deram origem a diversas “subculturas”. O movimento Punk foi um dos que produziu uma estética baseada em significações e objectos fortemente reconhecíveis. 
E hoje, como estamos de energias culturais alternativas ?

Na Noite Utópica de dia 4 de Março pretende-se convocar uma reunião de pessoas que vivam em Torres Vedras, e que de alguma forma estejam ligadas a práticas artísticas, sociais ou culturais comprometidas com uma convivência urbana mais rica, plural e criativa.  

Numa época de intensas crises a vários níveis e escalas é preciso encontrar novas geometrias variáveis que permitam interligar identidades culturais diversas, renovar o capital social através de conexões improváveis, trazer outras vozes e outras ideias para o centro da sociedade e da cultura.

Pior do que não reconhecer os problemas é viver uma ilusão colectiva de auto-satisfação, de que está tudo bem e que este é o melhor mundo possível. 

A tendência paternalista da administração e dos poderes públicos no âmbito das políticas culturais também não nos ajuda muito.Os poderes locais em vez de promoverem e aprofundarem soluções estruturantes em parceria com a sociedade civil, andam a maior parte das vezes ocupados em programar e produzir actividades recreativas para que os "súbditos" se divirtam um pouco mais. Gastando-se o escasso erário público  ao invés de se investir na sustentabilidade a longo prazo. 

Aliás, andar demasiadamente divertido ou anestesiado a vaguear por cima de ruínas e no meio de um caos decadente é uma ideia pouco saudável, a não ser para sonâmbulos profissionais...e insistir em fórmulas e processos miméticos não nos leva a lado nenhum, há que encontrar soluções adequadas a cada território, com criatividade, transparência, rigor e democracia participativa e inclusiva.

Por tudo isto, esta deveria chamar-se uma "Noite Atópica", porque  "La ATOPÍA es el sentimiento de malestar del individuo frente a la ciudad del presente la cual no representa, en ningún caso, el paraíso soñado o prometido que nos ofrece la utopía...de este malestar, de la incomodidad entre la ciudad que sí existe y el individuo. De la tensión entre una ciudad que se individualiza –se convierte en un ente con vida propia, más allá de naciones, países, estados- y de un individuo que se masifica.", diz Josep Ramoneda CCCB (Barcelona) acerca da próxima exposição. http://www.cccb.org/es/exposicio-atopia-33509 


Pensar a cidade é pensar a cultura e vice-versa, e para que tal  aconteça é preciso formularmos perguntas, identificar problemas... por isso, avançamos desde já com algumas questões:


- Como manter/aumentar/incentivar a diversidade  no "ecossistema" cultural de Torres Vedras ?
- Que inter-relações são necessárias estabelecer : com instituições, associações, grupos, etc.. ?
- Como aproveitar a criatividade artística, cívica e cultural para promover o desenvolvimento territorial ?
- Como inverter a sensação de mal-estar generalizado e o desanimo da vivência urbana ?
- O que deviam fazer as entidades públicas e privadas para promover a reflexão e abrir novos horizontes ?
- Enfim, que soluções, que estratégias, que políticas, que acções sustentáveis e estruturantes?

Estas são algumas das perguntas possíveis para debater na próxima Noite Utópica de dia 4 de Março.
Convidamos-vos desde já a trazerem mais perguntas, mais respostas ou outras inquietações...
De qualquer modo, sejam Bem-Vindos à Noite Utópica !!!
+info: Rui Matoso | rui.matoso@gmail.com | 967863646

Edgar Morin, fragmentos de um artigo publicado no Le Monde 9-01-2010:

Quando um sistema é incapaz de tratar os seus problemas vitais, degrada-se ou desintegra-se ou então é capaz de suscitar um meta-sistema capaz de lidar com seus problemas:metamorfoseia-se. O sistema Terra é incapaz de se organizar para resolver os seus problemas críticos: perigos nucleares que se agravam com a expansão e, talvez, a privatização das armas atómicas; degradação da biosfera; economia mundial sem verdadeira regulação; retorno da fome; conflitos étnico-político-religiosos que tendem a desenvolver-se em guerras de civilização.
Com efeito, tudo começou, mas sem que se soubesse. Estamos no estágio de começos, modestos, invisíveis, marginais, dispersos. Porque já existe, em todos os continentes, uma efervescência criativa, uma multiplicidade de iniciativas locais, em conformidade com a revitalização económica, ou social, ou política, ou cognitiva, ou educacional ou ética, ou da reforma da vida.
Estas iniciativas estão isoladas, nenhuma administração as leva em conta, nenhum partido toma conhecimento delas. Mas elas são o viveiro do futuro. Trata-se de reconhecê-las, inventariá-las, cotejá-las, catalogá-las, combiná-los e de conjugá-las em uma pluralidade de caminhos reformadores. São estes caminhos múltiplos que podem, através de um desenvolvimento conjunto, se combinar para formar o novo caminho que nos levaria em direcção à metamorfose ainda invisível e inconcebível. Para desenvolver formas que vão desembocar no Caminho, é preciso identificar alternativas limitadas, que limitam o mundo do conhecimento e do pensamento hegemónicos. Assim, é preciso ao mesmo tempo globalizar e des-mundializar, crescer e diminuir, desenvolver e envolver.
A orientação mundialização/des-mundialização significa que, se é preciso multiplicar os processos de comunicação e de planetarização culturais, é preciso que se constitua uma consciência da Terra-Pátria, mas também é preciso promover, de maneira des-mundializante, a alimentação de proximidade, os artesanatos locais, as lojas locais, a jardinagem suburbana, as comunidades locais e regionais.
A orientação “crescimento/decrescimento” significa que precisamos aumentar os serviços, as energias verdes, os transportes públicos, a economia plural capaz de incluir a economia social e solidária, o desenvolvimento da humanização das megacidades, a pecuária orgânica, mas diminuir as intoxicações consumistas, a alimentação industrializada, a produção de objetos descartáveis e não consertáveis, o tráfego de automóvel, o tráfego de caminhões (em benefício do transporte ferroviário).
A orientação desenvolvimento/envolvimento significa que o objectivo não é mais fundamentalmente o desenvolvimento de bens materiais, da eficiência, da rentabilidade, do cálculo; é também o retorno de cada um às necessidades interiores, o grande retorno à vida interior e ao primado da compreensão do outro, do amor e da amizade.
Já não basta mais apenas denunciar. Precisamos propor. Não basta apelar à urgência. É preciso saber também começar a definir os caminhos que levarão ao Caminho. É para isso que estamos tentando contribuir. 
Texto completo AQUI
 

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