Michel Foucault, dixit:

Em primeiro lugar, existem as utopias. As utopias são sítios sem lugar real. São sítios que têm uma relação analógica directa ou invertida com o espaço real da sociedade.
Apresentam a sociedade numa forma aperfeiçoada, ou totalmente virada ao contrário.
Seja como for, as utopias são espaços fundamentalmente irreais.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Noites Utópicas 2 | Transfigurações do Género




4 de Fevereiro 
Quinta-Feira, 21h30 | Teatro-Cine de Torres Vedras | Entrada Livre
 
Com
  • Raquel Freire (Realizadora, Rasganço, Veneno Cura, ...)
  • Hugo Dinis (Curador, Exposição Antena Serralves: Desedificar o Homem,...)
  • Matrafona (João Rodrigues, Associação Ministros & Matrafonas, Carnaval de Torres Vedras)



Perante a iminência contagiante do Carnaval “mais Português de Portugal” em Torres Vedras e da sua peculiar tradição das “Matrafonas”, as Noites Utópicas prosseguem no Teatro-Cine a 4 de Fevereiro, Quinta-Feira, pelas 21h30, desta vez com a presença da realizadora e activista LGBT Raquel Freire (Rasganço, Veneno Cura) e do curador Hugo Dinis (exposição Desedificar o Homem, Serralves). Os convidados tem por missão fornecer a substância ígnea fundamental para uma tertúlia controversa em torno das identidades e das subjectividades culturais relacionadas com o género e a orientação sexual, a qual só ficará mesmo completa com o discurso directo de uma vernacular “Matrafona” (da Associação Ministros & Matrafonas, Carnaval de Torres Vedras). 


As “questões de género” estão hoje na ribalta. Desde a nova legislação que permite o casamento homossexual até aos mais recentes estudos sobre poesia portuguesa feminista, a contestação de um paradigma “patriarcal” ancorado no poder de uma masculinidade hegemónica parece indicar que vivemos uma época de transição histórica. Será que entrámos numa era mais atenta aos direitos culturais de pessoas portadoras de outras mundividências e imaginários? Novos tempos em que assumidamente admitimos a fluidez identitária, reconhecendo que não somos o que somos mas o que fazemos de nós?


Quando em Outubro de 2008 Raquel Freire encenou o seu casamento homossexual frente ao Parlamento, referiu ao JN que essa «foi uma acção política contra a homofobia. Espero que seja finalmente legitimada. Daqui a uns anos, isso vai ser tão ridículo como discriminar raças diferentes. O racismo hoje é crime. Se um homem vai na rua e é apedrejado porque gosta de homens e não de mulheres, se perde o emprego por causa disso, isto é fundamental, é para a vida dele, é para a sobrevivência.».


Face a este contexto global e na actual temporalidade Carnavalesca de Torres Vedras, qual o sentido transfigurador das “matrafonas” e o seu valor simbólico? Serão apenas um fenómeno que visa o constante reforço da dominação masculina como exercício do poder e do consenso homofóbico? A resposta afirmativa a esta pergunta podemos encontrá-la na peça da artista Carla Cruz intitulada Homofóbico/Homoludens, integrada na exposição “Desedificar o Homem. Aproximações de arte contemporânea para uma possível discussão sobre a questão do género masculino” (com curadoria de Hugo Dinis, colecção do Museu de Serralves).


Esta discussão é igualmente importante numa outra dimensão globalizante, a das “Cidades Criativas” e das suas condições estruturantes ao nível da gestão das diversidades culturais. Neste aspecto, importa reconhecer se uma cidade média como Torres Vedras tem o grau suficiente de “Tolerância”, tendo em conta os condimentos delineados por Richard Florida (3 T's: tecnologia, talento e tolerância). Tolerância, significa aqui uma “abertura” social a estilos de vida não-hegemónicos, e o cruzamento criativo entre as diversas sensibilidades e racionalidades, designadamente a existência pública de uma boémia criativa, de minorias étnicas, ou de minorias LGBT...


Estas são algumas das questões que irão animar a tertúlia da Noite Utópica dedicada às Transfigurações do Género, precedidas pela visualização de recentes filmagens da cineasta Raquel Freire.


O Ciclo Noites Utópicas começou no dia 21 de Janeiro com o tema «Espaços Autónomos de Produção e Programação Cultural» e pretende ser uma clareira de encontro e de debate aceso, sem receio de polémicas e visando a construção do consenso possível, aberto à multiplicidade de identidades, subjectividades ou mundividências culturais e artísticas. 

domingo, 10 de janeiro de 2010

Noites Utópicas 1 - Teatro-Cine de Torres Vedras | 21 Janeiro

Espaços autónomos de produção e programação cultural: 21 de Janeiro, Quinta-Feira, Teatro-Cine de Torres Vedras | Entrada Livre


A urgência de autonomia cultural em debate nas Noites Utópicas

«O que de pior acontece de momento é que só há tempo ou velocidade ou passagem do tempo, mas não há espaço. É preciso criar espaços e ocupá-los, contra esta aceleração. Só daí pode vir a cultura – ou qualquer forma nova de tragédia – de um espaço que reaja à ditadura do tempo sem tempo, e que só pode ser um espaço dos vencidos: os vencedores nunca produziram cultura.» Heiner Müller



O Teatro-Cine de Torres Vedras acolhe o Ciclo Noites Utópicas no dia 21 de Janeiro, Quinta-Feira, pelas 21h30, com debate em torno dos «Espaços autónomos de produção e programação cultural» e conta desde logo com a presença dos mais activos protagonistas da cultura: Nuno Nabais (director da Fábrica Braço de Prata), Natxo Checa (director da Galeria Zé dos Bois) e Marisa Falcón da Escola Superior de Teatro e Cinema. 

O professor universitário de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa e director da Fábrica Braço de Prata (www.bracodeprata.com), Nuno Nabais, é um dos convidados especiais desta primeira Noite Utópica, a sua investigação na área da Filosofia do Conhecimento e o seu protagonismo como “activista cultural” será um precioso contributo.  


Natxo Checa, director da Associação Cultural e Galeria Zé dos Bois (www.zedosbois.org), conta com uma experiência de quinze anos à frente de uma das mais estimulantes organizações culturais independentes em Portugal. A sua experiência é uma mais valia indispensável para esta primeira Noite Utópica.

A investigação de Marisa Falcón sobre “Espaços Culturais Alternativos” é um dos ingredientes fundamentais para conduzir a quente tertúlia que nos espera nestas noites frias de Inverno.


Integrado na programação deste equipamento cultural, o Ciclo Noites Utópicas decorrerá na sua zona de Bar-Foyer, sempre às Quintas-Feiras, pelas 21h30, e pretende abrir uma clareira de encontro e de debate aceso sem receio de polémicas e aberto à multiplicidade de identidades, subjectividades ou mundividências culturais e artísticas. 

A moderação da primeira tertúlia, com entrada livre, estará a cargo de João Garcia Miguel (director do Teatro-Cine de Torres Vedras) e de Rui Matoso (criador e coordenador do projecto Noites Utópicas).



A ideia é simples: partir a loiça toda... (estava a brincar....calma !)

O tema da primeira Noite Utópica «Espaços autónomos de produção e programação cultural», pretende promover a reflexão e o debate sobre o papel das entidades culturais nas cidades e na sociedade.
Se a produção cultural e artística visam contribuir para a autonomia e o pensamento crítico dos indivíduos, estarão as estruturas culturais empenhadas nessa tarefa? Ou estarão, em cidades médias como por exemplo Torres Vedras, sob o efeito de uma letargia induzida pelo poder local? Isto é, sem capacidade de questionamento do "real" ou de apresentação de renovados sentidos e imaginários, numa época em que a humanidade provavelmente atravessa uma das suas crises mais complexas. 

Se José Gil tem razão (?) quando diz que:

1) «Na sociedade portuguesa actual, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições não foram ainda quebrados por novas formas de expressão da liberdade (...) O Portugal democrático é ainda uma sociedade de medo, e é o medo que impede a crítica” (...) raros são aqueles que conhecem o pensamento livre.» 

2) «Não há espaço público porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia e o fechamento sobre si próprios da estrutura das relações de força que elas representam. Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha afanosamente para a sua manutenção.»

3) «Se vamos a um espectáculo de um coreógrafo que vem a Portugal, gostamos de dança e descobrimos qualquer coisa de novo, uma parte daquele espectáculo deveria derrubar alguma coisa na nossa vida e mudar a nossa vida, descobrir espaços diferentes, maneiras de falar e de comunicar, etc. mas o que acontece é que tudo isso fica para dentro. Nós gostámos muito, tivemos mesmo em êxtase, mas ao sair do espectáculo voltamos para casa, gostámos, mas não acontece nada... O feed back nos jornais é geralmente uma crítica sempre descritiva porque tem-se medo de inscrever. Não se ousa criticar porque se tem medo (...)  A arte é uma questão privada. Não entra na vida, não transforma as existências individuais.»

4) «A não-inscrição continua hoje. O que acontece no nosso país é sem consequência. Nada tem efeitos reais, transformadores, inovadores, que tragam intensidade à nossa vida colectiva. Nestas condições, como participar no aprofundamento da democracia ?»



  • Quem melhor poderá contribuir para as necessárias e urgentes alterações políticas, sociais e culturais senão os próprios agentes culturais, na sua diversidade de interesses?
  • E porque é que isso não tem acontecido de forma concreta, estruturante e vigorosa ?
  • Estaremos já submersos num tal "síndrome do pânico", que perdemos a orientação e o sentido da "boa vida" urbana ?
  • O que significa "autonomia" e "liberdade" cultural, hoje, aqui e agora?
  • Somos súbditos domesticados e obedientes ou cidadãos livres?
  • Estaremos realmente sob o efeito de biopolíticas e biopoderes cujo objectivo de governação é a «desactivação da acção» ?
  • E se é verdade que a biopolítica actual está em estreita conexão com as "indústrias criativas" (trabalho imaterial, bens imateriais, ideias, formas de comunicação, relações humanas, precariedade laboral, etc...) estará a vida cultural, afectiva e espiritual reduzida à retórica oportunista e eleitoralista dos nossos actuais governantes ?
  • .... classes criativas, cidades criativas, bla, bla, bla...sim sim, claro...mas como? Assim de repente como quem faz magia e copia modelos importados à pressa? E o resto, as condições de cultura? A democracia participativa? O alargamento dos públicos da cultura? A democracia cultural? Os serviços públicos de cultura? A efectiva democratização da cultura e da criatividade? etc...etc...sem saltos "quânticos", portanto!
  • Qual é acção cultural pertinente e necessária nas circunstâncias actuais ?
  • Como estimular a auto-organização e a acção colectiva em rede nos sistemas culturais urbanos, designadamente nas cidades de média dimensão?
  • Devem as Câmaras Municipais (do alto do seu abusivo protagonismo) ser programadoras de eventos culturais ad-hoc? Ou antes pelo contrário assumir um papel de catalisadoras e facilitadoras dos processos criativos, artisticos e culturais promovidos pela sociedade cívil?

          As muitas outras perguntas, que vos convidamos desde já a lançar nesta quente noite de inverno, devem ter como pressuposto uma ideia simples: O CICLO NOITES UTÓPICAS pretende ser uma clareira de encontro e de debate aceso, sem receio de polémicas e visando a construção do consenso possível, aberto à multiplicidade de identidades, subjectividades ou mundividências culturais e artísticas.
 
Até quinta, apareçam e tragam mais achas para a fogueira!  :)








Fonte: http://industrias-culturais.blogspot.com/2009/07/espacos-alternativos-culturais-em.html




Contacto: Rui Matoso | rui.matoso@gmail.com | 967863646



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