Michel Foucault, dixit:

Em primeiro lugar, existem as utopias. As utopias são sítios sem lugar real. São sítios que têm uma relação analógica directa ou invertida com o espaço real da sociedade.
Apresentam a sociedade numa forma aperfeiçoada, ou totalmente virada ao contrário.
Seja como for, as utopias são espaços fundamentalmente irreais.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Espaços autónomos de produção e programação cultural: 21 de Janeiro, Quinta-Feira, Teatro-Cine de Torres Vedras | Entrada Livre


A urgência de autonomia cultural em debate nas Noites Utópicas

«O que de pior acontece de momento é que só há tempo ou velocidade ou passagem do tempo, mas não há espaço. É preciso criar espaços e ocupá-los, contra esta aceleração. Só daí pode vir a cultura – ou qualquer forma nova de tragédia – de um espaço que reaja à ditadura do tempo sem tempo, e que só pode ser um espaço dos vencidos: os vencedores nunca produziram cultura.» Heiner Müller



O Teatro-Cine de Torres Vedras acolhe o Ciclo Noites Utópicas no dia 21 de Janeiro, Quinta-Feira, pelas 21h30, com debate em torno dos «Espaços autónomos de produção e programação cultural» e conta desde logo com a presença dos mais activos protagonistas da cultura: Nuno Nabais (director da Fábrica Braço de Prata), Natxo Checa (director da Galeria Zé dos Bois) e Marisa Falcón da Escola Superior de Teatro e Cinema. 

O professor universitário de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa e director da Fábrica Braço de Prata (www.bracodeprata.com), Nuno Nabais, é um dos convidados especiais desta primeira Noite Utópica, a sua investigação na área da Filosofia do Conhecimento e o seu protagonismo como “activista cultural” será um precioso contributo.  


Natxo Checa, director da Associação Cultural e Galeria Zé dos Bois (www.zedosbois.org), conta com uma experiência de quinze anos à frente de uma das mais estimulantes organizações culturais independentes em Portugal. A sua experiência é uma mais valia indispensável para esta primeira Noite Utópica.

A investigação de Marisa Falcón sobre “Espaços Culturais Alternativos” é um dos ingredientes fundamentais para conduzir a quente tertúlia que nos espera nestas noites frias de Inverno.


Integrado na programação deste equipamento cultural, o Ciclo Noites Utópicas decorrerá na sua zona de Bar-Foyer, sempre às Quintas-Feiras, pelas 21h30, e pretende abrir uma clareira de encontro e de debate aceso sem receio de polémicas e aberto à multiplicidade de identidades, subjectividades ou mundividências culturais e artísticas. 

A moderação da primeira tertúlia, com entrada livre, estará a cargo de João Garcia Miguel (director do Teatro-Cine de Torres Vedras) e de Rui Matoso (criador e coordenador do projecto Noites Utópicas).



A ideia é simples: partir a loiça toda... (estava a brincar....calma !)

O tema da primeira Noite Utópica «Espaços autónomos de produção e programação cultural», pretende promover a reflexão e o debate sobre o papel das entidades culturais nas cidades e na sociedade.
Se a produção cultural e artística visam contribuir para a autonomia e o pensamento crítico dos indivíduos, estarão as estruturas culturais empenhadas nessa tarefa? Ou estarão, em cidades médias como por exemplo Torres Vedras, sob o efeito de uma letargia induzida pelo poder local? Isto é, sem capacidade de questionamento do "real" ou de apresentação de renovados sentidos e imaginários, numa época em que a humanidade provavelmente atravessa uma das suas crises mais complexas. 

Se José Gil tem razão (?) quando diz que:

1) «Na sociedade portuguesa actual, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições não foram ainda quebrados por novas formas de expressão da liberdade (...) O Portugal democrático é ainda uma sociedade de medo, e é o medo que impede a crítica” (...) raros são aqueles que conhecem o pensamento livre.» 

2) «Não há espaço público porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia e o fechamento sobre si próprios da estrutura das relações de força que elas representam. Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha afanosamente para a sua manutenção.»

3) «Se vamos a um espectáculo de um coreógrafo que vem a Portugal, gostamos de dança e descobrimos qualquer coisa de novo, uma parte daquele espectáculo deveria derrubar alguma coisa na nossa vida e mudar a nossa vida, descobrir espaços diferentes, maneiras de falar e de comunicar, etc. mas o que acontece é que tudo isso fica para dentro. Nós gostámos muito, tivemos mesmo em êxtase, mas ao sair do espectáculo voltamos para casa, gostámos, mas não acontece nada... O feed back nos jornais é geralmente uma crítica sempre descritiva porque tem-se medo de inscrever. Não se ousa criticar porque se tem medo (...)  A arte é uma questão privada. Não entra na vida, não transforma as existências individuais.»

4) «A não-inscrição continua hoje. O que acontece no nosso país é sem consequência. Nada tem efeitos reais, transformadores, inovadores, que tragam intensidade à nossa vida colectiva. Nestas condições, como participar no aprofundamento da democracia ?»



  • Quem melhor poderá contribuir para as necessárias e urgentes alterações políticas, sociais e culturais senão os próprios agentes culturais, na sua diversidade de interesses?
  • E porque é que isso não tem acontecido de forma concreta, estruturante e vigorosa ?
  • Estaremos já submersos num tal "síndrome do pânico", que perdemos a orientação e o sentido da "boa vida" urbana ?
  • O que significa "autonomia" e "liberdade" cultural, hoje, aqui e agora?
  • Somos súbditos domesticados e obedientes ou cidadãos livres?
  • Estaremos realmente sob o efeito de biopolíticas e biopoderes cujo objectivo de governação é a «desactivação da acção» ?
  • E se é verdade que a biopolítica actual está em estreita conexão com as "indústrias criativas" (trabalho imaterial, bens imateriais, ideias, formas de comunicação, relações humanas, precariedade laboral, etc...) estará a vida cultural, afectiva e espiritual reduzida à retórica oportunista e eleitoralista dos nossos actuais governantes ?
  • .... classes criativas, cidades criativas, bla, bla, bla...sim sim, claro...mas como? Assim de repente como quem faz magia e copia modelos importados à pressa? E o resto, as condições de cultura? A democracia participativa? O alargamento dos públicos da cultura? A democracia cultural? Os serviços públicos de cultura? A efectiva democratização da cultura e da criatividade? etc...etc...sem saltos "quânticos", portanto!
  • Qual é acção cultural pertinente e necessária nas circunstâncias actuais ?
  • Como estimular a auto-organização e a acção colectiva em rede nos sistemas culturais urbanos, designadamente nas cidades de média dimensão?
  • Devem as Câmaras Municipais (do alto do seu abusivo protagonismo) ser programadoras de eventos culturais ad-hoc? Ou antes pelo contrário assumir um papel de catalisadoras e facilitadoras dos processos criativos, artisticos e culturais promovidos pela sociedade cívil?

          As muitas outras perguntas, que vos convidamos desde já a lançar nesta quente noite de inverno, devem ter como pressuposto uma ideia simples: O CICLO NOITES UTÓPICAS pretende ser uma clareira de encontro e de debate aceso, sem receio de polémicas e visando a construção do consenso possível, aberto à multiplicidade de identidades, subjectividades ou mundividências culturais e artísticas.
 
Até quinta, apareçam e tragam mais achas para a fogueira!  :)








Fonte: http://industrias-culturais.blogspot.com/2009/07/espacos-alternativos-culturais-em.html




Contacto: Rui Matoso | rui.matoso@gmail.com | 967863646



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